Os versos que te escrevo
hão de resistir
e terão a alma nua;
dessas que vagam
sem destino certo pelas ruas.
Se a insensatez e a ignorância
não os desfizerem,
se não os mantiverem
de portas abertas
ao que vem de novo,
então abrirei as janelas
de todas as vidas
que moram na minha estante.
É a estupidez do mundo
que às vezes me sangra a pele.
Ferido,
o que me escorre pelo corpo
é a poesia de um espírito leve
e sensível
que não compreende
a brutalidade da vida...
Ou de toda vida que esquece
que a real riqueza do caminho
não está no que cresce
enquanto vamos batalhando
pela vitória;
mas no que nasce,
no que fica ou fenece
com tudo que vamos deixando
em nossa história.
Por fim, ai de mim,
que morro aos poucos
espalhando versos pelo chão,
pelas redes, paredes,
pelo ar e além do oceano...
Ai de mim que derramo
tempo de vida pelos olhos.
Ai de mim, que me reconheci,
me achei e me perdi
no amor e no calor
de outras vidas
e nos inúmeros pensamentos
dos moradores da minha estante.
Ai de mim, que fui moldando
o meu jeito de ser
- de amar e de viver -
para estar diante dos brutos
e de tudo aquilo que se coloca em nossas vidas de modo cruel
e indignante.
Ai de mim
e da dureza desse mundo!
Acaso ele não tenha sido feito
para ser leve,
suave, sensível, sensato
e profundo,
que se construa então
um novo mundo
para essas coisas
que almas insanas se esquecem.
No fim, o sentido do universo onde estou
não é para as sementes que a brutalidade planta.
Antes disso, é para a poesia
que almas boas e puras
derramam,
entendem e se reconhecem.
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