Oscar Calixto | Prosa e Verso
"O que não está nos sentidos, não pode existir na inteligência."
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Textos
Dois Num Apartamento
 

 
N
um prédio residencial, “Ela” entrara a fim de alugar um apartamento. Procurara na cidade um lugar com uma bela vista para morar. E esta era, antes de tudo, a prioridade que tinha nos imóveis que ia visitar. Mal esperava que ali, em mais uma simples visita, experimentaria algo novo e que nunca antes houvera experimentado. Sob os cuidados do corretor de imóveis, entrou no apartamento:
 
- É um belo apartamento, senhora. Tenho certeza de que vai gostar. Como lhe falei, vou estar na portaria. Peço para deixar as chaves antes de sair.

- Eu deixo.

- Divirta-se!
 
Durante a visita, após a saída do corretor, o telefone do imóvel tocou... E “Ela”, sem hesitar, o atendeu. “Ele”, escondido na segunda sala, entre os móveis abandonados, no escuro, atendeu a extensão cuidadosamente e ficou a escutar… Vagarosamente desligou o telefone e saiu para a primeira sala, onde “Ela” estava.
 
-Alô, Alôoou! Oi… Oi!!!  Alô!
 
E desligou. Nesse momento assustou-se ao vê-lo encostado na porta. E esporadicamente perguntou:
 
- Quem é você?
 
“Ele” nada respondeu. Ficando apenas a observá-la. Em seguida transitou pela sala até chegar a uma “quina” onde misteriosamente sentou-se. “Ela” continuou falando sem que “Ele” respondesse nada:
 
- Veio olhar o apartamento? Vou alugar. Tem uma bela vista. Como entrou aqui? Aonde estava? Você não vai falar? Pode me di...
 
- Xiiiiiiiiiii.
 
O apartamento estava escuro, pois já se fazia o fim de tarde. “Ela” então tentou ligar um abajour, que ali havia, na tomada. As instalações, assim como o prédio, eram antigas e precárias. Assim, ao ligar o abajour, tomou, nos dedos, uma descarga elétrica:
 
- Au!
 
Ao vê-la tomar a descarga, “Ele” aproximou-se “Dela”. Ela apenas o observara. Foi então que, num ato não explicado, ele pegou sua mão, observou o dedo e o levou à boca. Ao cuidar do dedo da estranha, ele a observou nos olhos e forçosamente a beijou. “Ela” relutou por alguns segundos até o momento em que “Ele” do beijo desistiu como um nada e novamente se dispersou. Logo após isto ela exalou:
 
- Por que fez isso? Por que? Ei, você é mudo? Insano!
 
- Veio aqui pra que?
 
- Eu vim olhar o apartamento. E você? Estou falando com você! Ei... Quem é você? Onde mora?
 
- No quinto.
 
- Por que fez aquilo? Está aqui por que?
 
- O apartamento é meu.
 
- Seu?
 
- É.
 
- Quero alugar.
 
- É seu.
 
- Como faço o depósito?
 
- Negocie com o corretor.
 
- Por que fez aquilo?
 
- O que?
 
- Você me beijou...
 
- Não gostou?
 
- Não.
 
- Mentira.
 
- Não gostei!
 
- Gostou.
 
- Quem é você? Qual o seu nome?
 
- Que nome? Sem nomes.
 
- Mas você...
 
- Xiiiiiiiiiiii...
 
“Ele”, aos olhos “Dela”, tinha atitudes estranhas. Era um mistério, mas era o dono do imóvel. Após o pedido repentino de silêncio, que interrompera seu raciocínio, “Ela” fez uma pequena pausa, onde o observou e continuou a falar sobre o apartamento:
 
- O que faço com os móveis?
 
- Vão retirar.
 
- Pode deixar a cama? Posso comprar… Por que não responde o que pergunto? Heim?
 
- Não tenho vontade.
 
- Mas isso é absurdo! Isso...
 
- Xiiiiiiiiiiiiiiiiiiii...
 
- Doente! Burro! Burro!
 
“Ele” retirou, de um pequeno bar que havia na sala, uma garrafa de Whisky. Serviu um copo e ofertou a “Ela”. Ela tomou:
 
- Está ruim isso! Tem o que dentro?
 
- Veneno.
 
- Mentira! Não tem veneno! Por que é assim?
 
- Como?
 
“Ela” o respondeu tentando ligar um outro abajour que novamente a acometeu de uma nova descarga elétrica:
 
- Estranho... Por que não me responde?
 
- Não preciso.
 
- Au... Merda!
 
- As tomadas... Tem que revisar.
 
- Eu sei. Já vi!
 
- Casada?
 
- Não.
 
- Você?
 
- Não.
 
- Tão rude! Corno?
 
- Viúvo!
 
- Desculpe.
 
Transitando novamente pela sala, “Ele” tentou ligar uma velha vitrola. Inevitavelmente tomou também uma descarga elétrica, mas conseguiu fazer o velho eletro funcionar. Colocou um disco do Frank Sinatra e descaradamente, com um ar diferente, perguntou:
 
- Dança?
 
- Não.
 
Ele a tirou para dançar a força. E segundo o movimento da dança, começou a assediá-la fisicamente, aos poucos, e bem devagar. “Ela” percebeu o que estava acontecendo e tentou se esquivar, mas “Ele” não obedeceu ao critério e forçou o sexo no meio da dança. Foram ao chão, onde se consumou o ato. Ela relutou o quanto pôde, mas alguma espécie de prazer também acontecera para ela. Embora, ao final de tudo, tenha rolado pelo chão chorando e emitindo ruídos de forma não regular:
 
- Ahhh... Êeeee...  Haaammm... Ahhh!
 
Após um grande momento de silêncio, ao som, provavelmente da segunda faixa do disco, “Ela” proferiu, ainda chorosa a primeira pergunta que conseguiu fazer:
 
- Qual o seu nome? Qual o seu nome?
 
- Sem nomes. Quem é você?
 
- Sara Ver...
 
- Não não... Quem é você?
 
- Sara Ver...
 
- Não, idiota! Você não é o seu nome! Quem é você?
 
- Não sei.
 
- Sabe.
 
- Quem é você? Porque não me diz o seu nome?
 
- Pra que? Não sou o meu nome... Nenhuma letra! Nenhuma!
 
- Quem é você então?
 
- Eu? Eu sou Huhuhuhuhuhu hu háaaaaaa... Sobrenome: huuuuuuuw Aaaaaaaooooooow Fuuuuuuuuuct!
 
Apesar de tudo que acontecera, ainda sob lágrimas, ela achou engraçado. Em seguida o xingou com um misto de raiva e simpatia enquanto ele enchia, com baldes d’água, uma velha banheira que havia lá:
 
- Huhum... Louco!
 
- Você quem é?
 
- Não.
 
- Quem é?
 
Ainda receosa, mas não querendo parecer demasiadamente comum, ela respondeu:
 
- Huáaaaa huháaaaaa hiiiiiiinch!!! Da família: Gruuuuuudis Haaaaaaaaaa Bruuuuuuumet!
 
“Ele” riu. Ambos riram... E num ato inesperado ele tirou a roupa e, ficando completamente nú, entrou na banheira. “Ela” ficou um pouco assustada, apesar de tudo que já ocorrera entre os dois em tão curto espaço de tempo e, indignadamente, protestou:
 
- Ei o que está fazendo? O que está fazendo?
 
- Esfregue as minhas costas...
 
- Como?
 
- Esfregue!
 
Sem contestamentos, ela pegou a escova da mão dele e esfregou suas costas calada. Ele, no entanto, puxou:
 
- Qual a sua idade?
 
- Trinta e dois.
 
- Quanto?
 
- Trinta e dois! E você tem quanto?
 
- Dois mil e oitocentos.
 
- De idade!
 
- Dois mil e oitocentos.
 
- Quando sua esposa morreu?
 
- Duas semanas.
 
- Duas? E fizemos aquilo?
 
Violentamente ele retrucou e quase a fez colocar as mãos em suas partes íntimas:
 
- Cala essa boca e esfrega meu peito. Esfrega! Esfrega!
 Põe a mão aqui...
 
- Não...
 
- Põe...
 
- Não...
 
- Põe!
 
Contudo, “Ela” se libertou e partiu para longe. Revoltosamente e, novamente num ar de choro, o questionou:
 
- Por que faz isso? Por que?
 
Ele, ainda na banheira, tirou a espuma do corpo, levantou, enxugou-se, pôs a cueca e foi em direção a ela, que chorava na janela. Carinhosamente a abordou:
 
- Escuta: É seu o apartamento. É seu!
 
- Não quero mais.
 
- É seu...
 
- Não quero! Sai!
 
Num outro ar, “Ele” pegou a bolsa dela e ameaçou jogar pela janela. "Ela", gritando, quase implorou. E tomando a bolsa dele, o xingou:
 
- Não! Não! Idiota!
 
- Burra!
 
- Burro!
 
- Burra!
 
- Burro!
 
- Burra!
 
- Burro!
 
Mais que num instante, pararam de agredirem-se em palavras e começaram somente a gritar um para o outro:
 
- Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!
 
- Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!
 
- Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!
 
- Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!
 
- Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!
 
Novamente ele tentou atacá-la. E ela se esquivou:
 
- Não para! Para! Paaara...
 
- Dança?
 
- Não.
 
- Dança!
 
- Me solta! Me solta! 
 
“Ele” a obrigou a dançar. Ela relutou, e na sua tentativa começou a rir, achando tudo, apesar de louco, engraçado. Ele cantarolava a música do Sinatra e, no meio disto, perguntou:
 
- Casa comigo?
 
- Não.
 
- Tudo bem… Não escutou direito!
 
- Casa comigo?
 
- Nãooo!
 
- Hem? Casa comigo? Simm...
 
- Não...
 
- Sim...
 
Ela perguntou:
 
- E virar a Senhora Huuuuuuuw Aaaaaaaooooooow Fuuuuuuuuuct?
 
- É.... Diz que sim? Estou te amando... Huuuuuuuuu.. háaaaa. huu!
 
- Hiéeeeee.. Hiéeeeeee héee... 
 
- Huuuu huuu...

Abraçados, riram juntos. E ao final do riso, ela disse:

- Caso! Eu caso!
 
E dialogaram com gritos:
 
- Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!
 
- Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!
 
- Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!
 
- Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!
 
Ao final disto, ele cantou uma outra música, ainda sob Sinatra, e ela o acompanhou numa língua que somente para eles deveria existir:
 
- Ashvinger Laaaaaws Blerrrrrk! Shuts vugn bruuuuuuch! Strests Vaaaaage Bon ruuuuuuuuuut!
 
- Autraaaaaaaaats bin smuuuuuuuurch!
 
- Ashvinger Laaaaaaws Blerrrrrrrrk!
 
- Ashvinger Laaaaaaws
 
- Ashvinger Laaaaaaws
 
- Ashvinger Laaaaaaws
 
- Vram troooooch ena gluuuut!
 
- Huháaaaaaa…
 
- Huháaaaaaa…
 
- Ahhhhhhhhhhhhhhhhhh!
 
- Ahhhhhhhhhhhhhhhhh!
 
- Ahhhhhhhhhhhhhhhhh!
 
- Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhh!
 

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PÃOZINHO NA BOCA?

Vamos lá:

1. "Ele" e "Ela" = Qualquer um em qualquer lugar!
2. Gritos, nomes e etc: Preenchimento de uma linguagem própria.
3. "Porque eu não sou o meu nome... Nenhuma letra!" 
   3.1 O homem não é do seu nome uma única letra! (Oscar Calixto)" 
   3.2 Quem é a pessoa dona do seu nome?
4. "Cala essa boca e esfrega o meu peito" >>> Peito = Lugar do CORAÇÃO!
5. Dança = Envolvimento artístico. Entrar no Caos = Lugar a partir de onde se cria.
6. Ficar nú = Mostrar-se como é!

Eis sobre o que o texto está falando... Quem "leu" parabéns!!!! E desculpe, às vezes tenho que dar o pãozinho na boca para quem não leu nada e ainda tira conclusões erradas! (Do desconhecido, normalmente se tem repulsa!) rsrsrrs... Prefiro dar pãozinho assim que dar no texto porque não quero que meus textos sejam simples literatura. Grande Abraço a todos! E quem não "leu"... Lê de novo!
 
Oscar Calixto
Enviado por Oscar Calixto em 23/10/2007
Alterado em 24/10/2007
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