Tão Sóbrio Quanto a Vida em Estado de Ópio
Eu não duvido de nada
Não duvido das flores
Dos espinhos
Não duvido dos amores
Nem dos caminhos
A vida está sempre imposta
E pra quem gosta
Ela é um prato cheio de sorrisos sarcásticos
O que me importa!
Eu vivi a vida da forma mais torta
Olhares voluptos
Incorrigíveis
Amigos corruptos
Totalmente substituíveis por Cristo
Ganhei e perdi tantos amores
Que não duvido
A vida tem cores
O céu, ora branco e negro,
Ora imensamente colorido,
Torna-se por vezes pequeno
Igual molécula em estado híbrido
E eu que tanto desafio estes nós
Eu que ainda tenho prós
Não duvido
Não duvido de nada
Pinto na parede do meu corpo
O que me resta na memória
Nuvens brancas e pretas
Rosas murchas e vívidas
Marcas fixas
Figuras frígidas
Todas espalhadas de modo torto
Uma cabeça no cesto de um patíbulo
A Lâmina totalmente ensaguentada
Eu não duvido
Não duvido de nada
Mais abaixo cabeças da multidão
Um lado grita sim, o outro grita não
E é assim este caminho
Nesse verso e reveso
Que se mantém imerso
Na cristalina alma humana
Mais à frente vejo o carrasco
Em seu eu permanece disso tudo o fiasco
Acima, no céu, dos dois lados
Um anjo puro, outro duro
E são Jorge com espada de aço
Eis aí o quadro
Grafado na parede do meu lamento
Eis aí o esquecimento
Que é tão sóbrio
Quanto a vida em estado de ópio
Eis aí o nosso jogo
Este é o nosso lodo
Eu não duvido de nada
Não duvido das flores
Dos desamores
Não duvido dos espinhos
Nem de feridas ou farpas
Eu duvido mesmo é dos carinhos
Que por vezes sumidos
E perdidos no esquecimento
Que por vezes inibidos
E negados em meu lamento
Na hora da vitória
Vêm, aparecem e me afagam
*** Poesia Vencedora do XIX Concurso Internacional de Literatura de Outono***
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